Nota da tradução: Nascido na Itália, filho e protegido espiritual do Padre Pio de Pietrelcina, também taumaturgo, portador místico das chagas de Cristo e exorcista por 53 anos, o sacerdote salesiano Giuseppe Tomaselli (1902-1989) teve uma das vidas mais extraordinárias dentre os virtuosos do século XX. Como apóstolo da boa imprensa, publicou dezenas de livros curtos e acessíveis a todos os fiéis; alguns destes, segundo disse em seu diário, foram ditados pelo próprio Cristo. Como apóstolo da pureza, dedicou sua vida a difundir esta virtude entre os sacerdotes. Assim como o Padre Pio, foi muitas vezes assaltado fisicamente pelo diabo. Há inúmeros fatos impressionantes para se contar de sua vida, e por isso recomendamos aos interessados a leitura de uma curta biografia sua em espanhol escrita pelo Padre Angel Peña (clique aqui).
Aqui, neste espaço, publicamos um de seus opúsculos, onde o Pe. Tomaselli instrui o leitor a fazer uma boa confissão não por meio de um tratado, mas por meio de uma narrativa breve de um homem que, por ignorância intencional das verdades de fé, acreditava-se um exemplo de boa alma, até que um dia aceitou o desafio de se confessar a um padre.
Introdução
A ignorância religiosa é o flagelo dos povos. No que diz respeito ao sacramento da Confissão, a ignorância atinge não poucas vezes o seu limite máximo; os Ministros de Deus sabem-no por dolorosa experiência.
Infelizmente, em certas circunstâncias, a Confissão torna-se confusa, quer pela ignorância religiosa do penitente, quer pela brevidade que o Sacerdote tem de manter quando muitos se apresentam no confessionário. Ai do Confessor se ele demorar com um penitente! Seria um ato de impaciência por parte dos que esperam, que ou iriam para casa sem se confessar, ou murmurariam ou julgariam mal tanto o sacerdote como o penitente!
Pensei em trazer ao vosso conhecimento o modo como um “pascalino”, ou seja, aquele que decide ir ao confessionário no tempo da Páscoa, pode se confessar.
Serve para instruir o povo cristão a fim de que se aproxime com fruto do Sacramento da Penitência.
Princípios fundamentais
Antes de entrar no assunto, é necessário recordar os princípios fundamentais do Sacramento da Confissão.
Jesus Cristo disse aos Apóstolos e aos seus sucessores: “Aqueles a quem perdoardes os pecados, ser-lhes-ão perdoados; àqueles a quem os retiverdes, ser-lhes-ão retidos”.
Portanto, o ministro de Deus perdoa os pecados não em seu próprio nome, mas em nome do Senhor.
Jesus Cristo não estabeleceu o tempo em que se deve procurar a absolvição sacramental; mas como muitos não se davam ao trabalho de voltarem à graça de Deus depois dos seus pecados, o Sumo Pontífice, Chefe Supremo da Igreja, decretou há séculos: “Todos os fiéis devem confessar-se pelo menos uma vez por ano”. Quem não cumpre esse preceito eclesiástico é culpado de pecado mortal.
Não basta confessar-se; é necessário confessar-se bem. E isso requer:
1° Pensar nos pecados cometidos
2° Arrepender-se do mal cometido; e que o arrependimento seja enobrecido pelo amor de Deus, ou seja, arrepender-se não só por causa dos castigos merecidos, mas sobretudo por causa da ofensa feita ao Senhor.
3° Prometer não pecar mais, com a firme intenção de evitar as ocasiões iminentes de pecado grave.
4° Manifestar as suas faltas ao sacerdote com humildade e sinceridade.
5° Realizar a boa ação imposta pelo confessor como penitência pelos pecados.
Só se é obrigado a confessar os pecados graves; é bom que se confesse os pecados veniais ou leves, mas não se é obrigado a fazê-lo.
Os pecados de pensamento são confessados como pensamentos, os de palavras como palavras e os de obras como obras. Por isso, quem dissesse: “Acuso-me de um mau pensamento contra a pureza”, e incluísse aí também uma fala desonesta ou um ato impuro, não se confessaria propriamente.
Além do pecado mortal, devem ser confessadas as circunstâncias que mudam a espécie do pecado, pois um pecado, devido a circunstâncias particulares, pode ser duplo e até triplo. Assim, se um pai de família profere uma blasfêmia diante dos seus filhos, comete dois pecados: o primeiro é a blasfêmia e o segundo é o escândalo dado aos seus filhos.
Dos pecados graves, o número também deve ser trazido ao conhecimento do confessor; se for conhecido com exatidão, não pode ser aumentado e nem diminuído; se o número não puder ser conhecido por causa dos muitos atos repetidos, deve ser dito o número aproximado. Por exemplo: Faltei à missa aos domingos, uma ou duas vezes por mês ... Blasfemei algumas vezes por dia, ou por semana, ou por mês.
Como nem tudo pode ser recordado no ato da Confissão, deve-se dizer no fim: Peço perdão a Deus mesmo pelos pecados de que não me lembro.
Os pecados confessados são diretamente perdoados; os pecados esquecidos ficam indiretamente absolvidos. Se, depois da Confissão, alguém se lembrar de algum pecado grave, pode ficar tranquilo; é lícito aproximar-se da Sagrada Comunhão. No entanto, na Confissão seguinte, lembrando-se do pecado omitido, há a obrigação de o confessar.
Quem voluntariamente esconde um pecado grave, por vergonha ou por qualquer outro motivo, não recebe o perdão de nenhum pecado, mas mancha a sua consciência com outro pecado gravíssimo, que se chama “sacrilégio”; se depois vai comungar, duplica o sacrilégio. É melhor nunca confessar do que confessar mal! O remédio que o Divino Redentor nos deixou tornar-se-ia veneno.
É muito perigoso dizer: “Peco... faço o que quero... e depois confesso-me!” Isto seria um abuso da misericórdia divina. Ai de quem desafia a bondade de Deus... Não te esqueças que com Deus não se brinca!
Coloque em prática os conselhos do confessor assim como se valoriza a receita dada pelo médico do corpo.
Quem sabe que fez uma má confissão, quer por ter calado um pecado grave, quer por falta de verdadeira dor e propósito, deve refazer a sua confissão, começando pela última bem feita.
Conversa no bar
— Antônio, a tua mulher faz-te com que se encolerizes?
— Às vezes sim e às vezes... sempre! A casa dela é a Igreja. De manhã, tem pressa em fazer as tarefas domésticas:
— Mas por que tanta pressa? — Não ouves, responde ela, que o sino da missa já está tocando?
— Muitas vezes, quando volto do trabalho, bato à porta da frente e ninguém responde. — Mas onde está a minha senhora? — E vejo-a aparecer ofegante com o xale na cabeça. — E onde é que tu estiveste? — Houve uma bela cerimônia na igreja! Não quis faltar!
— E tu, Antônio, tens paciência para suportá-la? Dá-lhe umas bofetadas, que ela logo ganha juízo!
— Ah, isso não! Minha esposa não merece esse tratamento! Além desse defeito não tem outros defeitos! Não confia em estranhos, não discute com vizinhos, sabe dizer uma boa palavra para pacificar as almas. Também mantém a casa arrumada e não me faz perder nada. Como você vê, está tudo bem em minha casa; há uma verdadeira paz, especialmente desde que os meus dois filhos se casaram. Paciência... vamos deixá-la ir à igreja!... Ele diz que precisa rezar, comungar e confessar.
— Sim... a confissão!... A minha mulher também tinha esse vício, mas eu fi-la perder! Nos primeiros anos da nossa convivência, fiz um pacto claro: se queres rezar, reza, mas em casa! Confissão, nada! Antes de morrer, chamo o padre em casa e faço-te confessar.... Além disso, que pecados tens tu? E a minha mulher mudou de vida!
— Confissão, confissão! exclama Antônio. — Mas o que é que os que se confessam têm para dizer? Que pecados podem fazer, para sentirem a necessidade de os contar ao padre?
— Mas, o que é que vocês querem! São mulheres, não sabem o que fazer em casa e vão à igreja para se confessarem. Nós, homens, que temos tantos pensamentos importantes na cabeça, não temos tempo a perder com essas parvoíces!
— No entanto, há homens que se confessam! Não viram na Páscoa quantos pais de família se confessaram na Igreja?
— E isso significa que eles têm pecados! Nem todos os homens são como tu e eu. Não matamos, não roubamos, não vamos ao tribunal para prestar falso testemunho, somos trabalhadores estimados e honrados... então.... o que é que devemos confessar?
— Tens razão!
Esta conversa teve lugar uma noite, no interior de um bar, enquanto Antônio e Nicolino tomavam a sua bebida habitual.
Encontro
O pároco estava de regresso à aldeia, depois de ter dado assistência a um moribundo numa região vizinha. Por sorte, Antônio passou por ele. O padre aproveita a ocasião para lhe dizer uma palavra.
— Antônio, como vai a tua saúde?
— Sempre bem! Só me falta dinheiro; não quero mais nada. Levei um par de sapatos a uma família e agora vou para casa.
— E como está a tua consciência?
— Bem! A consciência está sempre bem. Se ao menos todos os homens fossem como eu!
— E, no entanto, quase nunca o vejo na igreja! Já sua mulher é assídua!
— Basta que a minha mulher vá rezar a Deus; vale por ela e por mim. Às vezes digo-lhe: Conceição, é inútil dizeres-me para ir à Igreja; rezas por mim e por ti, tanto faz!
— Bravo Antônio! Experimenta também dizer à tua senhora: Conceição, esta noite não vou comer; tu comes por mim, tanto faz!
— Caro Padre Pároco, mesmo quando não vou muitas vezes à igreja, como faz a minha mulher, creio que amo a Deus mais do que ela, porque penso no Senhor e rezo-Lhe no meu coração.
— No entanto, no dia de Páscoa não te vi na igreja para a Comunhão; e não só este ano, mas também nos outros anos não te aproximaste de Jesus no Sacramento. Resolve-te a comungar de uma vez por todas! Faz uma boa confissão e serás feliz!
— Mas o que hei-de dizer na Confissão, se não faço mal a ninguém?
— É verdade; mas creio que, se olhares bem para a tua consciência, talvez encontres alguma coisa!... Pensa Antônio, se morresses! Acabo de voltar de uma situação em que ajudei um moribundo. Ai de ti se vieres ao tribunal de Deus com contas irregulares! Então eu espero por ti! Um dia virás ver-me e faremos tudo!
— Mas eu não tenho tempo!
— Não digas isso. Talvez não queiras! Não percebes que é o demônio que te impede de cumprir o teu dever de bom cristão? Não é preciso dinheiro para se confessar, apenas boa vontade.
— Senhor Pároco, vou pensar melhor!... Não me é difícil confessar-me um dia. Fá-lo-ei para lhe agradar a ti e também à minha mulher, que mo repete sempre.
— Isso é ruim! Então é melhor não te confessares.
— Por quê?
— Só te deves confessar para agradar ao Senhor, não às criaturas.
— Está bem! Farei como dizes. Mas se me confessar, não te ofendas, vou ter com um Padre Franciscano, porque os monges dão-me mais confiança.
— Ótimo! Máxima liberdade nessas coisas. Antônio, cuidado! Temo que o demônio lhe tire esta pequena boa vontade. Dá-me a palavra de honra que te confessarás e assim estarás mais seguro.
— Senhor Pároco, já que assim o quer, eu comprometo-me a honrar a minha palavra e vou confessar-me esta noite! Gostais?
— Bravo, Antônio! Rezarei por ti
Em casa
— Conceição, se alguém vier à minha procura, diz que estou ocupado esta noite.
— E se o teu amigo vier?
— Dizes que volto amanhã.
— O que vais fazer hoje?
— Não te quero dizer... mas digo-te... porque sei que te vai agradar. Vou ao mosteiro dos Franciscanos
— Mosteiro Franciscano? Tu?
— Sim, eu. Vou-me confessar.
— Antônio, estás falando sério?
— Claro que estou. Dei a minha palavra ao padre, encontrei-me com ele e decidi absolutamente confessar-me!
— Que alegria! Obrigado, Senhor!... Como eu Te pedi pelo meu marido!... Até que enfim!
— Então, Conceição, estás contente?
— Contentíssima! Mas recomendo-te que te confesses bem, não escondas os pecados!
— Pecados? E que pecados é que eu posso ter? Tu conheces-me bem e sabes que eu não faço mal a ninguém!
— Por isso, vou rezar imediatamente um terço a Nossa Senhora, para agradecer e para que Ela vos ajude esta noite.
No convento
O irmãozinho soou o sino da Ave-Maria e depois parou à porta do convento.
— Boa noite! Gostaria de falar com o Padre Serafim.
— Vou chamá-lo imediatamente.
Antônio entrou no convento e, enquanto esperava, passeou lentamente pelo pequeno pátio. O Padre Serafim não o deixou esperar muito tempo.
— Andas à minha procura?
— Exatamente! Quero fazer a minha confissão. Mas a minha confissão é simples. Não matei, não roubei, não fui ao tribunal e todos gostam de mim. Perguntem à aldeia quem sou e todos dirão que sou o maior cavalheiro!
— Fico feliz por isso! Mas sentemo-nos na igreja; estaremos a sós e poderemos falar tranquilamente.
O Padre Serafim, com a sua longa experiência, apercebeu-se imediatamente de que tinha um pascalino atrasado e pensou: Esta noite será um pouco trabalhosa! Para a glória de Deus!
Confissão
— Ajoelhe-se!
— É mesmo necessário ajoelharmo-nos? Sofro de reumatismo na perna.
— Então senta-te... Faz o sinal da cruz! Que pecados cometeste?
— Padre, eu confessei-me há pouco. Disse-lhe que nunca cometi pecados.
— Então... és um santo?
— Não sou um santo! Mas eu não tenho pecados!
— Então, responde às minhas perguntas: cumpriste o Preceito Pascal?
— Esse pecado eu não cometi.
— Pecado?... Pergunto-te se comungaste na Páscoa deste ano!
— Para te dizer a verdade, já há muito tempo que não comungo.
— Quando foi a última vez que te confessaste?
— Não me lembro bem! Quando era criança, até aos nove anos, confessava-me muitas vezes... uma ou duas vezes por ano. Depois fui trabalhar e não pensei mais nessas coisas. Sabes, quem trabalha não tem tempo a perder.
— Achas que é uma perda de tempo ir confessar-se e purificar a consciência? É um tempo bem empregado! — Então, não te lembras se te confessaste depois dos nove anos! Casaste-te regularmente?
— Sim, casei-me com todos os sacramentos da Igreja.
— Certamente te confessaste antes de te casares!
— Sim, sim... Lembro-me! Depois confessei-me na paróquia; havia um padre santo nessa igreja.
— E há quantos anos se casou?
— Vejamos... O meu primeiro filho tem vinte e sete anos, e eu casei-me há vinte e oito anos.
— Portanto, já são vinte e oito pecados mortais na sua alma! Cada ano que passa sem se confessar é um pecado grave!... Agora dá-me vinte e oito liras!
— E por que? É preciso pagar a confissão? Pensei que era tudo de graça.
— Tens razão. É tudo de graça... Mas, se não pagas e passas vinte e oito anos sem te confessares... se pagasses, quantos anos ficarias longe da confissão? E pense que todos os anos há a obrigação de comungar na Páscoa e quem não o fizer é culpado de pecado perante Deus. Conheces o terceiro preceito da Igreja Católica?
— Eu ignoro-o completamente!
— Eu digo-te: Confessa-te pelo menos uma vez por ano e comunga pelo menos na Páscoa.
— Assim sendo, agora que o sei, cumprirei o meu dever todos os anos.
— Conheces as pessoas da Santíssima Trindade?
— Não sei quem são!
— Sabes sequer que Deus existe?
— Ah, Deus tem de existir! Senão, quem é que teria feito o mundo? Além disso, quem é que nos faria ficar de pé? Eu acredito em Deus! Sou muito religioso; de fato, guardo tantas imagens sagradas na minha carteira! Se vissem a quantidade de imagens que a minha mulher tem penduradas nas paredes do seu quarto! E todas as noites beijo o quadro de S. João degolado, que está à cabeceira da cama dela!
— Será que toda a vossa religiosidade consiste apenas nisto?
— Além disso, quando nos reunimos para festejar um Santo, dou sempre a minha oferta; várias vezes carreguei o Padroeiro aos ombros no dia da sua festa! Ah, se todos os religiosos fossem como eu!...
— Tudo o que tens de religião é um verniz. Escutai-me: Tens de acreditar que Deus existe, que Deus é um só, que em Deus há três Pessoas iguais e distintas, Pai, Filho e Espírito Santo. Também tens de acreditar que o Filho de Deus, Jesus Cristo, há cerca de 1982 anos, se fez homem, nasceu da Virgem Maria, morreu na Cruz pelos nossos pecados e, passados três dias, ressuscitou gloriosamente. Finalmente, Jesus Cristo subiu ao Céu e voltará à Terra no fim do mundo para julgar todos, bons e maus; aos bons dará o Paraíso e aos maus o Inferno.
— Padre, mas há mesmo Inferno e Céu?... E quem é que o viu?... E quem veio de lá para nos dizer?
— Jesus Cristo, Homem-Deus, ensinou-nos estas verdades e nós devemos acreditar em tudo o que Deus nos revelou; negar uma única verdade divina ou pô-la em dúvida, constitui um pecado grave.
— Quantas vezes já disse a amigos: Que inferno e que céu! Os padres dizem-no para nos assustar!... Mas eu não acredito!... Aliás, se não houver inferno, tanto melhor; se houver, como os outros fazem, farei eu!
— Vês, caro amigo, quantos erros cometeste e quanto dinheiro semeaste! Tudo isso é um pecado grave!... Como vejo que ignoras os primeiros elementos da Doutrina Cristã, vou fazer-te perguntas particulares sobre os vários Mandamentos de Deus. Responderás com sinceridade! De tantas faltas, talvez Deus pouco vos peça por causa da vossa ignorância; mas lembrai-vos de que a ignorância culposa das verdades da fé é um pecado gravíssimo. Deveis educar-vos! Comecemos agora.
Primeiro Mandamento
— Tendes fé em Deus e na sua Providência, ou criticais a conduta do Senhor?
— Eu creio em Deus de todo o coração, mas digo muitas vezes que Ele faz coisas injustas. Parece-Lhe pouco que um pai de família morra e deixe cinco ou seis filhos... enquanto há tantos velhos a andar por aí? Deus não sabe fazer essas coisas! Ele deve mandar a morte a um velho e não a um jovem!
— E quem és tu, pobre homem, que te atreves a criticar Deus... o Onisciente... o Todo-Poderoso? Sabes mais do que Deus?
— Não, isso não!
— E, portanto, nunca digas tais coisas, porque dizer ao Senhor que Ele não sabe governar o mundo é um insulto à Divindade, e portanto um pecado grave... E nas tuas necessidades, recorres a Deus com a oração?
— A minha oração é sempre uma e recito-a todas as noites: “Santa Maria, Mãe de Deus...” Não conheço nenhuma outra oração. Mas depois penso: é inútil rezar! Deus é surdo e nunca me ouve!
— Quando se tem necessidade, é preciso rezar. Se o Senhor parece não te ouvir, deve ser porque não tens fé, ou porque cometes tantos pecados que te tornas indigno da sua ajuda e das suas graças. Falaste mal da religião?
— Eu gosto da Religião e não posso dizer mal dela. Só murmuro contra os padres e o Papa, porque me parece que não fazem as coisas certas.
— Preste atenção! Jesus Cristo diz, falando dos seus ministros: “O que vos rejeita, a mim rejeita!” Se encontrares algum padre cometendo uma falta, reza por ele. Cuidado com os juízos errôneos fáceis! Participaste em sociedades condenadas pela Igreja?
— Eu não gosto de participar de sociedades; tenho um pequeno grupo de amigos, tão bons como eu, e cuido da minha vida.
— Deixe-me explicar-me melhor. Já deu o seu nome a alguma corrente política que vá contra a Igreja?
— E o que é que a política tem a ver com a Confissão?
— Sim, porque hoje, com a desculpa da política, combate-se a Religião e excomungam-se certos partidos políticos.
— Ah, eu nunca quero ir contra a Religião; seria um pecado. Entrei para o Partido Comunista, o partido dos necessitados, e espero fazer melhor no futuro. Na minha opinião, fiz bem.
— Em vez disso, fizeste mal!
— E por que? Que mal haveria?
— Só vês pão: os superiores do partido têm outros objetivos: combater e eliminar a religião e admitir o divórcio.
— Podem ser os meus outros camaradas a querer isso, mas certamente não sou eu!
— Em todo o caso, procure outro partido, informe-se junto de uma pessoa prudente e depois dê o nome a essa corrente política que vos pareça a melhor.
— Mas, se eu der um passo atrás, o que dirão os meus camaradas?
— E se fores para o inferno, os camaradas virão libertar-te? Ou voltas para o bom caminho ou nego-te a absolvição. Eu sou padre e disse para proteger os direitos e as consciências de Deus!
— E paciência! Vou reformar-me. Vivi pobre até agora e viverei sempre pobre.
— Tem tido respeito humano?
— Sou muito respeitoso com todos; é por isso que todos gostam de mim.
— Quero dizer: já teve vergonha de professar a fé católica, com medo de ser criticado?
— Para dizer a verdade, quando estou só, não tenho vergonha de ninguém: rezo, beijo as imagens sagradas;... quando estou em companhia, tenho o cuidado de não me mostrar religioso, senão os outros ririam nas minhas costas e dir-me-iam: “Tornaste-te sacristão?”
— Comportas-te mal e Deus fica ofendido. Diz o Senhor: “Porque quem se envergonhar de mim e das minhas palavras, também o Filho do homem se envergonhará dele, quando vier na sua majestade, e na de seu Pai e dos santos anjos”. Por isso, é preciso ter sempre coragem e mostrar publicamente que se é religioso. És cristão ou és pagão?
— Eu sou cristão.
— Então não deves ter medo de mostrar que és um seguidor de Jesus Cristo. Pecaste na superstição?
— O que é que isso quer dizer?
— Invocaste por vezes o demônio?
— Pelo amor de Deus... Eu tenho muito medo do demônio! Mas, de vez em quando, quando estou zangado, invoco-o e chamo-lhe “santo”.
— Não o faça mais. Dizer “santo” ao demônio é um pecado mortal... Tens fé nos feitiços e no mau-olhado?
— Sempre!... São coisas que se veem com os olhos e é preciso acreditar nelas. Há pouco tempo, um vizinho zangou-se com a minha mulher, foi buscar um frasco de água e atirou-o para junto da minha porta, dizendo: “Vou fazer-te um feitiço e mandar-te o mau-olhado! Ai de ti!” Eu estava presente, queria usar as minhas mãos, mas contive-me. Disse então à minha mulher: “Conceição, não saias de casa enquanto eu não tiver acertado as contas”. Liguei para uma mulher experiente, paguei, fiz os feitiços na minha casa e assim tudo passou. Ai de mim e da minha mulher, se não o tivesse feito! ...
— Isto é um pecado!
— E por que?
— Mas o mundo é governado por essas bruxas ou por Deus?
— Certamente por Deus!
— Então, como é que uma mulher pode produzir o mal ou apressar a morte? Se tais coisas existissem, muitas mães de família teriam feito um feitiço para os chefes do governo e tê-los-iam feito morrer ou adoecer. Em vez disso, esses chefes não sentiram nada! Se assim fosse, colocariam um feitiço: servos de certos senhores, devedores dos seus credores, etc. .... Que disparate, que disparate! Só há maleficio, produzido pela intervenção diabólica.
— Mas eu dei tanta importância a essas coisas! E quanto dinheiro gastei durante os quatro anos de doença do meu filho!... Agora que sei, nem sequer quero acreditar na ferradura, na fita vermelha e no chifrinho!
— Também acreditas nisso?
— Até agora acreditei; mas já não acredito mais! Amanhã, quando entrar na oficina, vou tirar as três ferraduras que estão presas à porta.
— Quantas asneiras se cometem por ignorância!
— Assim mesmo!... Na ignorância! Nunca ninguém me explicou estas coisas.
— Mas tu ouves os sermões na Igreja? As almas são instruídas durante os sermões!
— Eu quase não assisto aos sermões; assim que o Padre começa a falar, saio da Igreja; o que o Padre diz, acho inútil; os sermões são úteis para as mulheres.
— São úteis para toda a gente! E tendes a grave obrigação de vos educar, de conhecer melhor a lei de Deus. Vede quanta ignorância religiosa há em vós!
— Quantos são mais ignorantes em matéria de religião do que eu!
— Eles darão contas a Jesus Cristo assim que morrerem; serão julgados severamente, porque poderiam ter-se instruído e não o fizeram. A ignorância culposa das verdades em que devemos acreditar e das coisas que somos obrigados a fazer é um pecado muito grave contra o primeiro mandamento de Deus! Ainda te lembras de outras faltas particulares, depois das perguntas que te fiz?
— Não saberia o que dizer! Já disse tudo e podeis dar-me a absolvição.... Desculpe, Padre, mas lembrei-me agora de uma particularidade, mas não creio que seja um pecado. Às vezes vou a uma aldeia vizinha, porque há lá uma mulher que adivinha quase tudo. Pergunto pelo meu futuro; costumava perguntar pelo meu filho militar; e parece-me que não há aqui nada de errado.
— Isto também é superstição.
— Mas eu pago, sei como não me vincular! Onde é que está o mal?
— É um pecado acreditar em superstições. Perguntar a adivinhos sobre o futuro ou sobre coisas ocultas é superstição e, portanto, pecado. Além disso, ninguém conhece o futuro; só Deus é senhor do futuro.
— No entanto, ela adivinhou algumas coisas. Disse-me que a minha vida tem sido muito cansativa, .... (e é verdade!); previu que viverei até aos 85 anos!
— Se não morreres antes!
— Disse-me que, depois dos 60 anos, me vai aparecer uma fortuna... que alguém me quer mal.... Algumas coisas eram verdadeiras, mas outras eram falsas.
— Não vês que estas pessoas são enganadoras e irreligiosas?
— Estás enganado! Essa mulher, antes de me responder, acende uma vela para Santo Expedito, depois reza uma oração e, por fim, faz três sinais da cruz.
— Pior ainda! Ela faz isto para ganhar a boa-fé dos seus clientes. Por isso, prometa a Deus não irá mais a cartomantes. Nas vossas necessidades, encomendai-vos ao Senhor e ponde-vos nas suas mãos.
Segundo Mandamento
— Já blasfemaste contra Deus?
— Nunca contra Deus... contra o Pai Eterno, sim!
— Pobre homem!... E o Pai Eterno não é Deus? Nunca te atrevas a profanar o nome da Divindade!
— Mas não o faço por maldade... não para insultar Deus... mas apenas para aliviar a raiva.
— Então tu, por raiva, esbofeteias um homem ou o matas, e achas que não é algo ruim porque o fazes com raiva!
— O que é que queres? Isso acontece muitas vezes a nós, trabalhadores, e a blasfêmia sai espontaneamente; mas depois de ter blasfemado, arrependo-me imediatamente. Ah, isto acontece-me sempre!
— Blasfemaste contra Nossa Senhora?
— Contra Nossa Senhora do Carmo, absolutamente nunca! Essa é a Senhora da nossa cidade e seria um verdadeiro pecado ofendê-la. Uma blasfêmia ocasional contra Nossa Senhora da Imaculada Conceição ou Nossa Senhora da Assunção escapa de vez em quando... mas, como já lhe disse, nunca o faço por maldade!
— Já deu a outros motivos para blasfemarem?
— Por vezes sim, mas muito raramente! Em frente à minha oficina, costuma passar um homem praticamente imbecil; os rapazes insultam-no e ele zanga-se e pragueja. Às vezes, eu estava sem fazer nada e, tendo visto passar esse homem, disse ao meu filho: “Vai puxar-lhe o casaco!” O pobre coitado começou logo a blasfemar. Essas sim são blasfêmias, Padre. Palavras horríveis! Blasfêmias em ladainha!
— Das injúrias que este proferiu contra Deus, hás-de dar contas ao Senhor! Foi por tua culpa que o provocaste!
— Mas eu não sou o único a fazê-lo; muitos outros o fazem, e mais frequentemente do que eu!
— Perante Deus, isso não é desculpa!... Blasfemaste na presença dos teus filhos?
— Quando blasfemo, não presto atenção aos que estão à minha volta; os meus filhos sempre me ouviram e os dois que trabalham na minha oficina também. E por que é que me pergunta isso?
— Porque és culpado de outros pecados! É obrigado a dar um bom exemplo aos seus filhos e empregados; ao blasfemar na presença deles, está a dar um mau exemplo e um escândalo! Se blasfema o pai, os filhos sentem-se no direito de fazer o mesmo. Deveis corrigir os filhos que estão cometendo essa falta. Se um dos vossos filhos blasfemar, como podereis censurá-lo?
— Se ele blasfemar? Um dos meus filhos blasfema muito pouco; mas o outro, o mais velho, blasfema mais do que eu! Quando se zanga, faz descer todos os Santos do Céu; não deixa um único!...
— Tu também és responsável pelas blasfêmias deste filho; ele aprendeu-as contigo; tu não o corrigiste a tempo... portanto, a culpa é tua!
— Mas Deus perdoa-me! Agora o meu filho está casado, fica em casa e eu já não tenho nada a ver com os assuntos dele; se ele blasfemar, azar o dele!
— O passado é passado! Agora promete ao Senhor não blasfemar mais; se algum dos teus empregados tiver este mau e feio hábito, repreende-o imediatamente assim que ele cometer a falta.
— Tens razão! A blasfêmia é um vício. Mas, pensando bem, eu digo: não é assim tão ruim As blasfêmias são palavras... não dão em nada... não matam ninguém!
— Deves saber que uma blasfêmia, um insulto a Deus, é um pecado maior do que a calúnia, o falso testemunho e até o homicídio!
— Eita! Já que o dizes, e tendo estudado mais do que eu, eu acredito!
— Continuando... já quebrou promessas feitas a Deus ou aos santos?
— Faço poucas promessas; mas depois de ter feito algumas, facilmente as negligencio. Durante a guerra, houve um terrível ataque à nossa aldeia. Lembra-se, Padre? Vinte e quatro aviões passaram e lançaram muitas bombas. Para lhe dizer a verdade, nessa altura tive medo e exclamei: “Se ficar vivo, trago à Nossa Senhora do Carmo uma tocha, tão comprida como eu e pesando dez quilos”. Naquela época, fiquei ileso. Passado pouco tempo, a guerra acabou e eu disse: “Agora a ação está feita. Não haverá mais perigo. Tenho pouco dinheiro e não posso comprar a tocha. Nossa Senhora, perdoai-me!”
— Enquanto não puderes, estás desculpado; quando estiveres em condições de cumprir a tua promessa, levarás a tocha a Nossa Senhora; se te for difícil fazer tal despesa, pedirei ao Bispo a faculdade de te dispensar. Não te esqueças, porém, que é melhor não prometer do que prometer e depois não cumprir! Se alguma vez quiser fazer uma promessa que agrade muito a Deus, não prometa dinheiro, nem tochas, nem outros objetos, mas uma boa Confissão ou a Sagrada Comunhão... ou não faltar à Missa ao Domingo... não blasfemar... tirar um ódio do seu coração!
— E que promessas são essas? Antes dar mil liras e oferecer à Nossa Senhora do Carmo uma bela tocha... essas, creio eu, são as melhores promessas!
— Estás enganado! O que dizeis custa muito e vale pouco; as promessas que vos sugeri custam pouco e valem muito... porque Deus procura primeiro o coração e depois o resto...
— Farei agora algumas perguntas sobre o terceiro mandamento da Lei divina. Responde com sinceridade.
Terceiro Mandamento
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