Pessoa, Reino e Perseguição - Fim do Anticristo
I. Certezas
PRIMEIRA CERTEZA: O Anticristo será uma prova para os bons e um castigo para os ímpios e os apóstatas.
a) Prova: “eis que aquela haste fazia guerra contra os santos e levava-os de vencida” (Dan. VIII, 21); “Foi-lhe (à Besta) permitido fazer guerra aos santos e vencê-los” (Ap. XIII, 7).
b) Castigo: “A vinda deste iníquo será acompanhada... de todas as seduções da iniquidade para aqueles que se perdem, porque (por sua culpa) não abraçaram o amor da verdade, que os salvaria. Por isso Deus lhes envia um poder de sedução, de tal modo que creiam na mentira, para que sejam condenados todos os que não deram crédito à verdade, mas puserem a sua complacência no mal” (2 Tes. II, 9-12). Deus só coloca a pedra de tropeço no caminho dos ímpios quando eles merecem plenamente o castigo: assim então eles se elevam ao ápice dos seus crimes.
É, portanto, por permissão divina que o advento do Anticristo se cumprirá. A fim de testar, por um lado, a fé dos eleitos, e punir, por outro lado, a apostasia de um grande número, Satanás receberá, como aconteceu com Jó, a liberdade de exercer durante algum tempo o seu funesto poder contra o gênero humano. É então que surgirá aquele que Santo Irineu chama de recapitulação de toda a iniquidade1, e que surgirá naquele tempo de perseguição de que Nosso Senhor disse: “porque então será grande a tribulação, como nunca foi, desde o princípio do mundo até agora, nem jamais será”2.
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SEGUNDA CERTEZA: O Anticristo será um homem, um indivíduo.
“Ninguém de modo algum vos engane, porque isto não se dará sem que antes venha a apostasia (quase geral dos fiéis), e sem que tenha aparecido o homem do pecado, o filho da perdição”. (2 Tes. II, 3)
O Anticristo não é, portanto, uma ficção ou um mito escrito por uma pena leviana como a de Renan, que se esforçou por estabelecer tal entendimento3. Nem deve ser confundido com qualquer seita, um conjunto de pessoas ímpias, um ambiente de ateísmo ou um período de perseguição, como pensaram algumas almas piedosas. O Anticristo será uma realidade individual, uma pessoa, surgindo, é verdade, numa era de ateísmo e de seitas perversas, mas, embora tenha ligações estreitas com essas seitas e com esse ambiente de ateísmo, não deixará de ser ele próprio uma pessoa, um indivíduo com “olhos de homem, e uma boca que falava com insolência” (Dan. VII, 8, 20; Ap. XIII, 5)4.
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TERCEIRA CERTEZA: O Anticristo não será Satanás encarnado, nem um demônio disfarçado de humano, mas um membro da família humana, um homem, e nada mais que um homem.
“O homem do pecado” (2 Tes. II, 3)
Sem dúvida esse ser receberá as inspirações de Satanás e será como seu instrumento; Satanás será o seu conselheiro e a sua inspiração invisível: dar-lhe-á o seu apoio, os seus poderes, mas ele mesmo não será o Anticristo5.
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QUARTA CERTEZA: O Anticristo será sedutor por causa de certas qualidades de sua pessoa.
“Nesta haste havia uns olhos como olhos de homem, e uma boca que falava com insolência”. (Dan. VII, 8) – “E foi-lhe dada uma boca que proferia coisas arrogantes e blasfêmias” (Ap. XIII, 5) – “Prostraram-se diante do Dragão, que havia dado o poder à Besta, e prostraram-se diante da Besta, dizendo: ‘Quem há semelhante à Besta?” (Ap. XIII, 4) – “A vinda deste iníquo será acompanhada, por obra de Satanás, de toda a espécie de milagres, sinais e prodígios mentirosos, de todas as seduções da iniquidade para aqueles que se perdem” (2 Tes. II, 8, 10).
É um erro popular imaginar o Anticristo com um exterior repulsivo, como uma síntese de toda a feiura física. Provavelmente vem da interpretação dada a estas características do retrato do Apocalipse: “Depois vi levantar-se do mar uma Besta, que tinha dez chifres e sete cabeças, e sobre os chifres dez diademas, e sobre as suas cabeças nomes de blasfêmia. A Besta que eu vi, era semelhante a um leopardo; os seus pés como pés de urso, e a sua boca como boca de leão” (Ap. XIII, 2). Longe de representar o exterior físico do Anticristo, essa passagem simbólica pretende apenas dar uma ideia do seu vasto poder e da extensão do seu império, e essas coisas serão discutidas logo a seguir. Os vários textos recordados provam, pelo contrário, que a pessoa do Anticristo não carecerá de atrativos sedutores.
Se, com efeito, a descrição de Daniel destaca os olhos do Anticristo: “Nesta haste (chifre) havia uns olhos como olhos de homem”, é porque os olhos denotam inteligência, clarividência e habilidade. Mas, entre os encantos sedutores, Daniel e o Apocalipse concordam em apontar, como certamente apresentando mais perigos além desse, o encanto da voz e da eloquência: e uma boca que falava com insolência. Com insolência! Os intérpretes geralmente dão a essas expressões o significado de palavras exorbitantes, palavras de orgulho, revolta, etc., enormidades. Mas a palavra hebraica em Daniel que consta nesse trecho indica que essas também podem ser palavras sublimes, eloquentes e cativantes. Tendo o Anjo caído escolhido o Anticristo como líder visível da batalha suprema a ser travada contra Cristo e sua Igreja, ele lhe comunicará algo dos encantos naturais e incomparáveis que o Éden uma vez contemplou com espanto em Lúcifer, encantos esses que não lhe foram retirados, e que ele abusa deles para fazer o mal. Sob essa influência oculta, o sublime, na boca do filho da perdição, se unirá à blasfêmia; e essa tentação do sublime será tão atraente que os eleitos seriam seduzidos, se pudessem sê-lo6. Há mais: O retrato, traçado na epístola aos Tessalonicenses, revela no Anticristo um poder de sedução maior que o da voz e da eloquência: “de todas as seduções da iniquidade”, diz; consequentemente, sedução de uma bela presença e de um belo rosto, sedução do gênio, sedução de uma falsa virtude, sedução do prestígio e dos prodígios mentirosos, unidos à sedução da voz e da eloquência. E por isso a terra, enganada e admirada, clama: Quem é como a besta?
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QUINTA CERTEZA: Em seu início, o Anticristo será humilde e pouco notado.
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