Probabilidades, incertezas e fantasias sobre o Anticristo.
II. Probabilidades
PRIMEIRA PROBABILIDADE: Os judeus aclamarão o Anticristo como Messias e serão auxiliares no estabelecimento do seu reino.
“Vim em nome de meu Pai, e vós não me recebeis; se vier outro em seu próprio nome, recebê-lo-eis.” (Jo. V, 43)
É nesta frase dirigida por Jesus Cristo aos judeus, seus contemporâneos e seus adversários, que essa crença se estabeleceu; e podemos dizer que é o sentimento comum dos Padres da Igreja. Nomeemos Santo Irineu, Santo Hipólito, Santo Hilário, São Cirilo de Jerusalém, São Gregório Nazianzeno, Santo Efrém, Santo Ambrósio, Rufino, São Jerônimo, São João Crisóstomo, São Próspero, São Cirilo de Alexandria, Teodoreto, Vitorino, São Gregório Magno, André de Cesaréia, Beda o Venerável, São João Damasceno, Teofilato, Santo Anselmo, etc.
Basta citar os mais famosos:
São Jerônimo: “O Senhor, falando do Anticristo, disse aos judeus: Vim em nome de meu Pai, e vós não me recebeis; se vier outro em seu próprio nome, recebê-lo-eis... Os judeus, depois de terem desprezado a verdade na pessoa de Jesus Cristo, receberão a mentira ao receberem o Anticristo”1.
São João Crisóstomo: “Quem é aquele a quem o Salvador anuncia que virá, mas não em nome de seu Pai? É o Anticristo, e Ele denuncia de maneira evidente a perfídia dos judeus”2.
Santo Ambrósio: “Isso mostra que os judeus, que não quiseram acreditar em Jesus Cristo, acreditarão no Anticristo”3.
Santo Efrém: “É de forma excepcional que o Anticristo cercará a nação judaica de favores. Mas é também com honras extraordinárias que a nação deicida o cobrirá e aplaudirá o seu reinado”4.
São Gregório Magno: “Os judeus depositarão a sua confiança em um homem. Aqueles que se recusam a acreditar no Redentor então no fim do mundo se entregarão ao Anticristo”5.
São João Damasceno: “Os judeus rejeitaram, portanto, o Senhor Jesus, Cristo e Deus, e Filho de Deus; por outro lado, receberão o impostor que arrogantemente reivindicará a divindade para si”6.
Santo Hipólito, discípulo de Santo Irineu e um dos primeiros a escrever sobre esse assunto, falou dos judeus: “Dirão uns aos outros: ‘Existe na nossa geração um homem tão bom e tão justo?’ Eles virão até ele e lhe dirão: ‘Todos nós te serviremos; depositamos nossa confiança em vós; nós te reconhecemos como o mais justo de toda a terra; é de vós que esperamos a salvação. E eles o proclamarão Rei”7.
Todo o espanto cessa diante desses comentários e desses anúncios que vêm de cima quando, acima de tudo, vemos o enorme poder financeiro dos judeus, as suas intrigas, a escalada que fazem dos primeiros lugares nos principais Estados, e suas relações pessoais estabelecidas nos quatro cantos do mundo. Perante tal preponderância, já não é difícil compreender e admitir como poderiam contribuir para o estabelecimento do formidável poder do Anticristo.
Essa aclamação da sua pessoa e a ajuda que lhe prestarão são, portanto, coisas prováveis. Mas por que não certezas?
Aqui está o motivo:
A maior parte dos testemunhos patrísticos, acima relatados, baseiam-se nestas palavras de Jesus Cristo, dirigidas por ele aos judeus: “Vim em nome de meu Pai, e vós não me recebeis; se vier outro em seu próprio nome, recebê-lo-eis”8. Ora, a respeito desse texto, Santo Tomás de Aquino observa que, desde a aparição do verdadeiro Cristo, apareceu entre os judeus um grande número de falsos cristos e foram recebidos por eles9, e pode ser que o texto, considerado em si, referiu-se não ao Anticristo, mas a qualquer um desses falsos messias, esses falsos cristos. Contudo, acrescenta Santo Tomás, esse texto pode provavelmente ser recebido no sentido relativo ao Anticristo, por causa da autoridade dos santos Padres que o entenderam assim: “Locus probabilis est propter auctoritatem sanctorum Patrum: Essa sentença é provável por causa da autoridade dos santos Padres”10.
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SEGUNDA PROBABILIDADE: A duração da perseguição do Anticristo será de três anos e meio.
“Os santos serão entregues nas suas mãos até um (ano ou) tempo, dois (anos ou) tempos e metade dum (ano ou) tempo” (Dan. VII, 25) - “e foi-lhe dado poder de agir durante quarenta e dois meses” (Ap. XIII, 5)
Foi dito anteriormente (segunda certeza) que o poder e a perseguição do Anticristo seriam apenas temporários. Isso é certo. Mas seria possível determinar a duração exata? A este respeito, só podemos dar uma resposta provável, e não certa, de acordo com os dois textos citados. A afirmação de Daniel, de fato, é misteriosa: ele especifica apenas três tempos e meio, sem determinar o que significam essas expressões que podem significar um período de dias, meses, anos ou séculos. Muitos comentadores antigos (S. Efrém, S. Jerônimo, Teodoreto, etc.), modernos e contemporâneos, assumem que um “tempo” corresponde a um ano. Eles estão certos. Graças, de fato, ao texto do Apocalipse, o de Daniel fica esclarecido. Ao prever que o domínio do Anticristo durará apenas quarenta e dois meses, o Apocalipse autoriza-nos a concluir que “um tempo, dois tempos e metade dum tempo” representam três anos e meio, duração equivalente a quarenta e dois meses11.
Uma observação engenhosa foi feita: “É digno de nota que Daniel não diz simplesmente: três tempos e meio, mas: um tempo, dois tempos... ele divide assim a era do Anticristo em três períodos integrais: um período relativamente de curto período, durante o qual o inimigo de Deus e dos homens estabelecerá o seu poder; o segundo, mais longo, que o fará exercer sua influência nociva; o terceiro, que parecia provável que se prolongasse ainda mais, será, pelo contrário, muito curto, porque o seu poder será subitamente quebrado pelo Senhor”12.
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III. Incertezas
PRIMEIRA INCERTEZA: A nacionalidade do Anticristo.
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