Já faz um ano desde o texto de abertura. Acredito que aquilo que tinha em mente em grande parte foi realizado, com alguns ajustes, graças às sugestões e ideias de vários amigos e leitores.
Como forma de agradecimento por esse um ano, farei um sorteio, dia 04 de junho de 2025, entre os assinantes pagantes, do livro Política Cristã, de autoria do Padre Guilherme Devillers.
Atenção: esse livro não está mais em catálogo, então quem não conseguiu obtê-lo agora é a chance de se tornar assinante e participar do sorteio. Caso você não consiga se inscrever por meio da plataforma Substack, mande um e-mail para catolicorealismo@gmail.com que lá eu passo instruções para conseguir efetuar a assinatura.
Estrutura do livro Política Cristã
O livro do Padre Devillers é dividido em sete questões disputadas, no mesmo estilo da Suma Teológica de Santo Tomás de Aquino. Como denota seu nome, o livro discute a sociedade como um todo, e não apenas seu aspecto governativo, desde um ponto de vista católico tradicional. No formato de questões disputadas, primeiro apresenta-se uma questão geral, como por exemplo a Questão Quarta - O Matrimônio e a sociedade familiar, e dentro desta questão discutem-se artigos especificamente sobre o assunto-título da Questão. No exemplo citado (Questão 4) temos sete artigos, começando pelo Artigo 1: Se o fim principal do matrimônio é a geração e a educação dos filhos.
Cada artigo dentro da Questão, assim como na Suma, começa com as objeções, que por sua vez apresentam as dificuldades ou impugnações à tese pressuposta no título do artigo1. Por exemplo:
Não parece que o fim principal do matrimônio seja o bem dos filhos. Vimos num estudo anterior que o fim de toda sociedade não é outro senão a utilidade dos seus membros, mediante a ajuda e o apoio mútuo tendo como fim o bem comum. E o matrimônio é uma pequena sociedade entre o homem e a mulher. Por conseguinte, o fim primário ou principal do matrimônio não é o bem dos filhos, mas a ajuda mútua. (Política Cristã, Questão 4, Artigo 1, primeira objeção)
Logo após o elenco de uma ou mais objeções, em alguns artigos apresentam-se um ou mais argumentos de autoridade do Magistério, das Escrituras ou da Tradição eclesiástica que aparentemente criam um conflito de difícil resolução com as objeções, e estes argumentos de autoridade são chamados de sed contra (Em contrário). Por exemplo, ainda no Artigo 1 da Quarta questão sobre o matrimônio e a educação dos filhos:
Em contrário, parece que a geração não é apenas o fim principal, mas o fim único. Com efeito, conforme é dito no livro do Gênesis (Gn. 2, 18), a mulher foi criada para o homem, mas unicamente para lhe permitir engendrar; porquanto, para outro fim o homem receberia melhor auxílio de outro homem que de outra mulher. E isso é o que nos parece ensinar o Criador do gênero humano quando instituiu o matrimônio no paraíso, declarando aos nossos primeiros pais, e através deles a todos os futuros cônjuges: “Crescei e multiplicai-vos, e enchei a terra” (Gn 1, 28). (Política Cristã, Questão 4, Artigo 1, sed contra)
Ora, por um lado parece que tem razão o objetante, apoiado na questão do bem comum estudada em uma questão anterior, ao dizer que a ajuda mútua no matrimônio sobrepõe-se à educação dos filhos, e nisso seguem-no até a hierarquia pós-conciliar/vaticanossegundista da Igreja ao dizer que a ajuda mútua sobrepõe-se à educação dos filhos. Por outro, parece que o Gênesis diz o extremo oposto e assim poderíamos in extremis dizer que a ajuda mútua nem sequer é um fim secundário do matrimônio.
Para resolver esse conflito, chegamos ao cume do artigo, que é a resposta ou corpus. A resposta não é uma mera opinião do autor das questões disputadas, mas uma demonstração irrefutável de sua resolução, uma vez que ela dissolve os conflitos da mesma maneira que a luz dissolve as trevas. O latim bem editado da Suma é cristalino a esse respeito: Respondeo. Dicendum quod (“Respondo”, ou seja, “a resposta é esta”, PONTO. “Dicendum quod, É preciso/necessário dizer que…”).
Fechando um artigo de uma questão disputada vem a solução das objeções, que, apoiada na brilhante luz da resposta dada no corpus, dirige-se individualmente a cada objeção a fim de colocar a inteligência em repouso naquela questão.
Em algumas questões deste livro, o autor também adiciona ao final de um artigo um texto corrido reforçando e fixando a compreensão do assunto abordado.
Foi assim que seguiu o Padre Devillers, ao longo de sete questões (v. índice abaixo) resolvidas ao longo de sete anos na Revista Le Sel de la terre, que depois foram editadas no livro Politique Chrétienne, que veio a ganhar dois apêndices mais tarde, ao longo de quatro edições que revisaram e aumentaram o conteúdo original publicado naquela revista entre 1998 e 2005.
Acredito que este livro e “O Reino de Deus”, do Padre Álvaro Calderón, são o suprassumo da exposição da mais pura doutrina da política realmente católica e sem compromissos.
Uma bela amostra da firme doutrina exposta nessa obra está em seu célebre texto “Politique chrétienne ou politique séparée ?” (Política cristã ou política separada?), que mais tarde foi adicionado como segundo apêndice da obra. Há uma tradução aberta desse indispensável texto no site da Permanência.
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Índice da obra Política Cristã
É bem importante ressaltar o papel das objeções na resolução da questão e deixar claro sua seriedade: iluministas andavam pela França com as objeções da Suma Teológica em suas mãos levando fiéis e padres mal estudados à perda da fé por não saberem enfrentá-las. Tivessem esses padres, no obscuro século XVIII, lido a Suma, preservariam a si e a seus fiéis dos ataques dessas terríveis lanças espirituais.