O Sionismo e a Construção do Estado de Israel, por Pierre Hillard
Parte 4 da série “Globalismo: uma longa história”

“Globalismo: Uma longa história” é uma série dividida em vários textos. Para ler as partes anteriores, clique abaixo:
Parte 1 – As raízes do globalismo
Parte 2 - O papel do judaísmo na história mundial
Parte 3 - A Revolução Francesa e a emancipação judaica
Theodor Herzl e o projeto sionista
Durante o século XIX, havia basicamente três correntes judaicas: os judeus nacionais1, os judeus internacionais2 e, por fim, os sionistas.
E esse sionismo precisa ser explicado para que se entenda a situação atual, pois quando Theodor Herzl (1860-1904) apareceu no cenário internacional, ele estava simplesmente retomando um antigo ideal cujas sementes haviam sido plantadas já nos três primeiros séculos da era cristã.
Herzl queria criar um Estado judeu e, conforme dito anteriormente, havia uma rivalidade dentro do mundo judaico entre aqueles que diziam que somente Deus poderia estabelecer um Estado de Israel e os outros — os sionistas — que diziam que Deus tinha de ser forçado, e por isso apresentavam Israel com um fato consumado e um Estado criado. E essa ideia de criar um Estado de Israel, que já havia sido anunciada nos três primeiros séculos após Cristo, ganhou impulso no século XIX quando, em 1836, um rabino prussiano, Zvi Hirsch Kalischer (1795-1874), enviou, em 1836, uma carta a Amschel Mayer Rothschild anunciando seu desejo de criar um Estado de Israel na Palestina.
E esse princípio perduraria por todo o século XIX com a criação, em 1882, de Rishon LeZion, uma pequena entidade territorial na Palestina, na época sob ocupação otomana, mas administrada pelos Rothschilds. A palavra “sionismo” foi de fato inventada por um judeu austríaco chamado Nathan Birnbaum (1864-1937), por volta de 1896, e só depois veio Theodor Herzl com seus escritos.
Na primeira parte do meu livro, “Sionisme et mondialisme”, tive o imenso privilégio de poder apresentar em francês os diários completos de Herzl, redigidos em alemão entre 1895 e 1904, e que só foram traduzidos uma vez para o inglês pela Fundação Herzl e apresentados em um box de cinco volumes. Os primeiros quatro volumes, com 1.600 páginas, são os diários de Herzl, e o quinto volume, com 400 páginas, trata-se de uma lista de nomes e institutos organizados com os quais Herzl se encontrou, e nos quais está seu curriculum vitae. Com efeito, a Fundação Herzl esteve em contato com os antigos colaboradores de Herzl e, portanto, obteve informações em primeira mão.
Eu sempre cito esse exemplo: Herzl, em um determinado momento, conheceu o secretário particular dos Rothschilds, em Paris, que se chamava Albert Spitzer. E disso só se tem uma linha no diário. Spitzer era um conhecido pessoal da mãe de Theodor Herzl. Assim, os senhores podem ver as ligações muito próximas de Herzl com o mundo Rothschild por meio de sua família e, em particular, de sua mãe.
Pode-se não gostar dele, mas Herzl era um homem extraordinário em inteligência e perseverança. Sua história também era comovente, pois tinha momentos de fraqueza: teve um ataque cardíaco e morreu aos 44 anos de idade. Algumas pessoas acham que talvez alguém tenha se aproveitado de seu coração fraco para se livrar dele, embora não haja provas disso. Não obstante era um homem extraordinário.
O primeiro congresso realizado por Herzl foi o Congresso Sionista, realizado em 1897. E agora lembrem-se do que eu disse anteriormente: desde os dois primeiros séculos depois de Cristo havia esse desejo de criar um Estado de Israel e que havia facções judaicas lutando entre si (aqueles que acreditavam que só Deus poderia estabelecer o Estado de Israel e aqueles que acreditavam que era obra de mãos humanas).
O primeiro Congresso Sionista foi realizado em Basiléia, na Suíça. Mas, na verdade, originalmente ele deveria ter sido realizado em Munique, Alemanha. Mas os rabinos de Munique ficaram indignados com o fato de os judeus estarem reivindicando restabelecer o Estado de Israel. Com os sionistas interditados por tal audácia (verboten!), estabeleceu-se assim a estrutura do Congresso na Basileia graças a um judeu suíço, David Zvi Farbstein (1868-1953)3. Assim foi a criação, ou pelo menos o lançamento, do primeiro Congresso Sionista.
Herzl escreveu um relato sobre esse primeiro congresso em 1897. Nele escreveu o seguinte: “Na Basiléia, fundei o Estado judeu. Se eu dissesse isso publicamente hoje, a reação seria de riso geral. Talvez daqui a cinco anos, mas certamente daqui a cinquenta anos com certeza todos reconhecerão isso”4. Não foram 50 anos, mas 51 anos, pois passou-se de 1897 a 1948 até a criação do Estado de Israel. Depois disso, podemos não concordar com suas ideias, mas é um sujeito impressionante.
Eu disse aos senhores que o judaísmo rabínico, desde o início, foi construído em oposição ao catolicismo. Não ao Islã, não ao budismo. E, entre outras coisas, eu disse aos senhores sobre as três oposições: contra a Santíssima Trindade, contra a divindade de Cristo e contra o sacerdócio. Em certo momento, Herzl estava em Viena conversando com o embaixador otomano, Mahmud Nedim Pasha (1818-1883), que lhe disse:
“Os muçulmanos estão mais próximos dos judeus que dos cristãos. Entre nós, qualquer um que faça um comentário ofensivo sobre Moisés ou Abraão tem sua cabeça cortada. Também somos circuncidados como os senhores. O senhor pode se passar por um maometano e eu posso me passar por um judeu. Não reconhecemos Cristo como o Filho de Deus. Para nós, todos eles são profetas”.5
São 1600 páginas dos diários completos de Herzl. Nem uma página, nem um parágrafo, nem uma linha contra o islã. Pelo contrário, ele queria cooperação com o mundo muçulmano.
Mas, ao mesmo tempo, o que é revelador é que esses sionistas, como todas as elites judaicas, salvo poucas exceções, desprezam o mundo muçulmano. Herzl, em seus diários completos, falando sobre o mundo muçulmano, pelo menos sobre a área da Palestina ocupada pelos muçulmanos, chama o lugar de “recanto arruinado”.6
Seu ódio ao catolicismo, por outro lado, se traduz ao dizer que “o Santo Sepulcro deve ser desmontado pedra por pedra”. Ele não diz isso sobre a Meca ou a Caba, não, mas apenas sobre o Santo Sepulcro.
O sionismo é bom em ser hostil ao cristianismo. E, em certo momento, Herzl estava conversando com o embaixador judeu americano Oscar Solomon Straus (1850-1926) e disse ao embaixador: “Roma [o catolicismo romano] é o único inimigo. Ela é o irmão rico que odeia o irmão pobre [o judaísmo]”.7
Está claro que o sionismo nada mais é do que a continuação, nos últimos 2000 anos, de um ódio rabínico ao catolicismo, e somente ao catolicismo. Não há uma única observação sobre o mundo muçulmano. Pelo contrário, em um determinado momento, Herzl queria criar um banco composto inteiramente de judeus e muçulmanos. Mas nada de cristãos: isso ele não queria. Isso está claro.
Os diários completos de Herzl são para o sionismo o que a Bíblia é para o cristianismo, o Alcorão para o Islã ou o Mein Kampf para o nazismo. Com esses diários pode-se compreender muito melhor a política atual. Assim, quando Herzl morreu em 1904, seu projeto continuou.
Durante a Primeira Guerra Mundial, temos a famosa Declaração de Balfour. Em primeiro lugar, para mostrar que Herzl era um visionário, ele explicou que a guerra que estava por vir seria uma guerra entre um clã sionista pró-alemão em oposição a um clã sionista pró-inglês. Por que isso aconteceu? Porque, como já falamos muitas vezes, existia a linha ferroviária Bagdá-Berlim, que começava em Hamburgo, atravessava a Alemanha, a Áustria-Hungria, a Sérvia — que era a zona frágil —, o Império Otomano e cruzava a Mesopotâmia, e os alemães queriam construir, junto dessa ferrovia, uma espécie de oleoduto sobre trilhos para produzir e transportar petróleo, porque se estava migrando do carvão, como matriz energética, para o petróleo entre os séculos XIX e XX. E os alemães queriam até mesmo construir uma base naval no Kuwait.
Portanto, se os alemães tivessem sido bem-sucedidos, eles teriam controlado a exploração do petróleo, e os britânicos, ou seja, o poder militar e econômico britânico, teriam ficado dependentes do poder terrestre alemão. E Herzl explicou em certo momento que tudo se resumiria ao clã sionista pró-alemão apoiando o projeto da linha Bagdá-Berlim e o projeto sionista britânico se opondo a ele.
Isso é absolutamente brilhante. Ele morreu em 1904, então isso diz tudo. E a guerra de 1914-1918 não foi travada para recuperar a Alsácia-Lorena. Os infelizes 1.400.000 franceses que morreram foram soldados a serviço do Império Britânico e, assim como os alemães foram as vítimas nessa história, a guerra de 1914-1918 foi travada para resolver esse problema: a Mesopotâmia, com seu petróleo, estava sendo disputada entre a Alemanha e a Inglaterra.
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A Primeira Guerra Mundial e a Declaração Balfour
Em 1917, o governo britânico emitiu a famosa Declaração de Balfour, reconhecendo um lar judeu na Palestina. Os senhores devem saber que o verdadeiro autor da Declaração Balfour não foi James Arthur Balfour, mas Alfred Milner, que era o filho espiritual de Cecil Rhodes, que desempenhou um papel fundamental no globalismo.8
Um ponto importante é que em 1916, um ano antes da declaração, a Inglaterra e a França estavam em uma situação lamentável, e a Alemanha estava prestes a vencer. Então, por que os Estados Unidos ficaram do lado da Inglaterra e da França, mas não da Alemanha?
Esta informação é oficial: segundo a Comissão Peel de 1937 do governo britânico9, que interrogou diversos líderes da época, os sionistas fizeram uma proposta aos britânicos e franceses. Conforme testemunhou o ex-primeiro-ministro britânico David Lloyd George (1863-1945, que governou de 1916 a 1922), os sionistas prometeram que, se Inglaterra e França apoiassem a criação de um Estado judeu, conseguiriam trazer os Estados Unidos para a guerra como aliados:
Os líderes sionistas nos fizeram uma promessa formal de que, se os Aliados se comprometessem a fornecer meios para facilitar o estabelecimento de um lar nacional para os judeus na Palestina, eles fariam o possível para reunir os sentimentos e o apoio dos judeus de todo o mundo à causa dos Aliados. Eles mantiveram sua palavra.10
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O papel do nazismo na formação de Israel
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